A escritora britânica Samantha Harvey foi agraciada com um dos mais prestigiados prêmios da literatura internacional, o Booker Prize, pelo seu romance “Orbital”.
Criado em 1968, o Man Booker Prize é concedido anualmente à melhor obra de romance ou ficção escrita em língua inglesa por autores vivos que sejam cidadãos de um país membro da Comunidade Britânica ou da República da Irlanda. No entanto, em 2015, as regras do Booker Prize foram ampliadas para permitir a entrada de escritores de qualquer nacionalidade desde que seus livros fossem escritos em inglês e publicados no Reino Unido e na Irlanda. Sendo que em 2019, o Man Booker Prize passou a se chamar apenas Booker Prize. Ao ganhador é assegurado grande reconhecimento internacional, além da quantia de 50 mil libras esterlinas (208 mil reais).
“Mais de meio século de sabedoria e criatividade coletadas das mentes mais brilhantes da ficção contemporânea produziram uma história absorvente de nossos tempos.”
Orbital
Sucesso de críticas e vendas, “Orbital”, publicado originalmente em 12 de novembro de 2024 e previsto para ser lançado no Brasil em 2025 pela editora DBA Literatura, conta com apenas 136 páginas, sendo o segundo livro mais curto a ganhar o prêmio e aquele que cobre o menor período de tempo de todos os livros da lista, ocorrendo em apenas 24 horas. Além de ter sido o primeiro romance ambientado no espaço a vencer o Booker Prize.
Seis astronautas e cosmonautas – da América, Rússia, Itália, Reino Unido e Japão – se revezam na Estação Espacial Internacional. Eles estão lá para fazer um trabalho vital, mas lentamente começam a se perguntar: o que é a vida sem a Terra? O que é a Terra sem a humanidade?
Juntos, enquanto viajam a velocidades de mais de 27.000 km/h, eles observam seu silencioso planeta azul, circulando-o 16 vezes em um único dia, passando por continentes e percorrendo as estações do ano, observando geleiras e desertos, os picos das montanhas e as ondas dos oceanos.
Vislumbramos momentos de suas vidas terrenas por meio de breves comunicações com a família, suas fotos e talismãs; observamos enquanto eles preparam refeições desidratadas, flutuam em um sono livre da gravidade e se exercitam em rotinas rígidas para evitar atrofia muscular; testemunhamos a formação de laços que os separam da solidão absoluta.
No entanto, embora separados do mundo, eles não conseguem escapar de sua atração constante. Notícias da morte de uma mãe chegam até eles, e com elas vêm pensamentos de retornar para casa. Eles observam um tufão se formando sobre uma ilha e pessoas que eles amam, em admiração por sua magnificência e com medo de sua destruição.
A fragilidade da vida humana preenche suas conversas, seus medos, seus sonhos. Tão longe da Terra, eles nunca se sentiram mais parte – ou protetores – dela.
Segundo o júri “Samantha Harvey escreveu um romance impulsionado pela beleza de dezesseis amanheceres e dezesseis entardeceres. Todos e ninguém são o assunto, enquanto seis astronautas na Estação Espacial Internacional circulam a Terra observando as passagens do clima através da fragilidade de fronteiras e fusos horários. Com sua linguagem de lirismo e acuidade, Harvey torna nosso mundo estranho e novo para nós”.
Sobre a autora e sua obra
Nascida em Kent na Inglaterra em 1975, filha de um construtor, Samantha Harvey estudou filosofia na Universidade de York e na Universidade de Sheffield. Escritora e escultora, nos anos 2000, ela trabalhou no Museu Herschel de Astronomia em Bath, o local de onde o planeta Urano foi descoberto. Atualmente, ela é tutora no curso de MA em Escrita Criativa na Universidade Bath Spa, onde se formou em 2005, e autora de cinco romances.
Entre eles, o indicado para o Booker Prize, “The Wilderness” (2009), que mostra o ponto de vista de um homem com a doença de Alzheimer, além de “All Is Song” (2012), que é sobre dever moral e filial, e sobre a escolha entre questionar e se conformar, “Dear Thief”, que é uma longa carta de uma mulher para sua amiga ausente, detalhando as consequências emocionais de um triângulo amoroso, e “The Western Wind”, que é sobre um padre em Somerset no século XV.
Sendo que em 2020, Harvey publicou seu primeiro livro de não ficção, “The Shapeless Unease: A Year of Not Sleeping”, sobre sua experiência pessoal de insônia crônica. A autora foi também indicada a diversos prêmios como o James Tait Black Award, o Women's Prize, o Guardian First Book Award, o Walter Scott Prize, entre outros. Seus contos apareceram na Granta Magazine, The Guardian, The New York Times, The New Yorker, The Telegraph e na revista TIME.
Tendo sua escrita comparada à de Virginia Woolf, Samantha Harvey é conhecida pela enorme variedade de cenários em suas obras, em especial, “Orbital”, que nos convida a observar o esplendor da Terra, enquanto reflete sobre o valor individual e coletivo de cada vida humana. “Orbital” foi anunciado como vencedor do Booker Prize 2024 pelo presidente dos jurados, Edmund de Waal, em uma cerimônia realizada em novembro no Old Billingsgate, em Londres, onde Harvey recebeu £ 50.000 e um troféu, que foi entregue a ela por Paul Lynch, vencedor do Prêmio Booker 2023.
A autora, em entrevista ao Booker Prize, disse que pensou em escrever uma pastoral espacial, um tipo de escrita sobre a natureza e a beleza do espaço. “Eu queria escrever sobre nossa ocupação humana da órbita baixa da Terra durante o último quarto de século – não como ficção científica, mas como realismo. Eu poderia evocar a beleza daquele ponto de vista com o cuidado de um escritor da natureza? Eu poderia escrever sobre espanto? Eu poderia fazer uma espécie de pastoral espacial? Esses foram os desafios que eu me propus”, acrescenta Harvey.
Saiba mais no site oficial do Booker Prize.