Prêmio Nobel de Literatura 2016

A Real Academia Sueca de Ciências, em Estocolmo, surpreendeu o mundo, com o anúncio de que o cantor e compositor americano Bob Dylan seria agraciado com um dos mais prestigiados prêmios literários, o Nobel de Literatura.

foto: divulgção
“É difícil de acreditar... incrível, incrível. Quem poderia sonhar com algo assim?”, disse Bob Dylan ao receber a notícia, em entrevista ao jornal inglês Daily Telegraph. “Nem uma só vez tive tempo de me perguntar se minhas canções eram literatura”, acrescentou o compositor, em seu discurso de agradecimento à Academia Sueca, “por separar um tempo para considerar essa questão e, finalmente, por dar uma resposta tão maravilhosa”.

Criado em 1901, o Prêmio Nobel de Literatura é concedido a um escritor (a) de qualquer nacionalidade que, de acordo com Alfred Nobel, tenha “produzido, no campo literário, o mais magnífico trabalho em uma direção ideal”. Premiando o vencedor com a quantia de 8 milhões de coroas suecas (cerca de 2,67 milhões de reais).

A escolha

Um episódio inédito na história da premiação, o fato gerou polêmica, e vem provocando inúmeras discussões entre críticos, acadêmicos, autores, músicos e fãs, que se perguntam, até hoje, se as letras de músicas podem ou não serem consideradas como material literário.

Já segundo a Academia Sueca, essa não foi uma decisão difícil, pois as canções do compositor se destacam “por terem criado novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana”, razão pela qual “Bob Dylan merece ser lido como um poeta”.

“Ele é um grande poeta na grande tradição inglesa, que se estende de Milton e Blake em diante”, disse a secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, em entrevista após o anúncio do prêmio, na qual ela compara as canções de Dylan com as obras dos poetas gregos Homer e Sappho, criadas não apenas para serem lidas como também para serem apresentadas, muitas vezes com o auxilio de instrumentos musicais.

O Professor Horace Engdahl, membro da Academia, destacou ainda que “por meio de sua obra, Bob Dylan mudou nossa ideia do que a poesia pode ser e como ela pode funcionar. Ele é um cantor digno de um lugar ao lado dos gregos, ao lado de Ovídio, ao lado dos visionários românticos, ao lado dos reis e rainhas do Blues, ao lado dos mestres esquecidos de padrões brilhantes”.

O vencedor

Nascido em Duluth, Minnesota, em 1941, Robert Allen Zimmerman começou sua carreira musical cedo, se apresentando em bandas de rock'n'roll ainda no ensino médio. Com uma paixão pela música folclórica americana, pelo blues e pela poesia, o cantor adotou mais tarde o nome Bob Dylan, em homenagem ao poeta Dylan Thomas.

E em 1961, ele mudou-se para New York, onde passou a se apresentar nos clubes e cafés de Greenwich Village, até conhecer o produtor de discos John Hammond com quem assinou um contrato para seu primeiro álbum “Bob Dylan” lançado em 1962. A partir daí, o cantor e compositor gravou uma série de álbuns considerados obras-primas da música, entre eles “Blonde on Blonde” (1966), “Oh Mercy” (1989), “Time Out Of Mind” (1997), “Modern Times” (2006), e muitos outros. E por décadas, suas canções conquistaram gerações de fãs com melodias sobre amor, guerra, religião, política, traição, decepção, refletindo sobre as condições sociais e morais da humanidade.

Considerado uma das mais influentes figuras na história da música contemporânea, embora raramente conceda entrevistas, Bob Dylan, aos 75 anos, continua ativo no meio cultural, realizando turnês pelo mundo, além de publicar trabalhos como “Tarantula” (1971), lançado no Brasil em 1986 pela editora Brasiliense, e a coleção “Writings and Drawings” (1973). Sem falar na sua autobiografia “Chronicles” (2004), publicada no país em 2005 pela editora Planeta. A obra retrata seus primeiros anos em New York e fornece vislumbres de sua vida no centro da cultura popular.

A premiação

A cerimônia de entrega do Prêmio Nobel aconteceu em Estocolmo no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel. Infelizmente, devido a compromissos inadiáveis, o cantor não pode comparecer ao evento, assim sua amiga, a cantora e compositora Patti Smith o representou na cerimônia, agraciando o público com uma emocionante versão da música “A Hard Rain’s A-Gonna Fall”, do álbum “The Freewheelin” (1963), ao lado da Real Orquestra Filarmônica da Suécia.

Além disso, Dylan enviou um discurso lido pela embaixadora dos Estados Unidos na Suécia, Azita Raji, no qual ele expressa seu agradecimento e surpresa em receber o Nobel de Literatura, e lamenta sua ausência durante a cerimônia de premiação.

“Ser premiado com o Prêmio Nobel de Literatura é algo que eu nunca poderia ter imaginado”, diz o compositor que conta ainda que desde cedo, conheceu, leu e absorveu os trabalhos dos que foram considerados dignos de tal distinção, como Rudyard Kipling, Bernanrd Shaw, Thomas Mann, Pearl Buck, Albert Camus e Ernest Hemingway.  “Esses gigantes da literatura cujas obras são ensinadas na sala de aula, alojadas em bibliotecas ao redor do mundo e faladas em tons reverentes sempre causaram uma profunda impressão. Agora eu me junto aos nomes de tal lista e estou verdadeiramente sem palavras”.

Meses depois da cerimônia de premiação, no dia 29 de março de 2017, a Academia Sueca informou que irá se reunir no final de semana com Bob Dylan, aproveitando sua presença em Estocolmo para realizar dois shows. Em um encontro íntimo, sem a presença da Imprensa, os membros da Academia irão entregar a Dylan o diploma e a medalha, além de felicitá-lo pelo Nobel de Literatura.

Confira os demais vencedores no site oficial do Prêmio Nobel (em inglês).

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