A autora sul-coreana Han Kang entrou para a história como a primeira autora de seu país a ser agraciada pela Real Academia Sueca de Ciências, com um dos mais prestigiados prêmios literários do mundo, o Prêmio Nobel de Literatura.
O prêmio, que existe desde 1901, é entregue a um escritor (a) de qualquer nacionalidade que, de acordo com Alfred Nobel, tenha “produzido, no campo literário, o mais magnífico trabalho em uma direção ideal”. Premiando os vencedores com a quantia de 11 milhões de coroas suecas (cerca de 6 milhões de reais).
Segundo declarou a Academia em nota à Imprensa, Han Kang ganhou o Prêmio Nobel de Literatura deste ano “por sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana” e por sua “consciência única das conexões entre corpo e alma, os vivos e os mortos”.
A vencedora e sua obra
Nascida em Gwangju, na Coreia do Sul, em 27 Novembro de 1970, Han Kang mudou-se com sua família aos nove anos para a cidade de Seul, onde graduou-se em literatura coreana pela Universidade Yonsei. A autora vem de uma família com fortes laços com a literatura, com seu pai, Han Seung-won, sendo um renomado romancista.
Depois de se graduar trabalhou durante três anos como jornalista nas revistas Publishing Journal e Samtoh, entre outras. Junto com sua escrita, ela também se dedicou à arte e à música, o que se reflete em toda a sua obra.
Mas sua carreira literária só teve inicio mesmo em 1993 com a publicação de cinco de seus poemas, incluindo "Inverno em Seul", na revista “Literatura e Sociedade” (문학과사회). Enquanto que sua estreia em prosa começou em 1995 com a publicação da coleção de contos “Amor de Yeosu” (여수의사랑), que foi seguida por várias outras obras, tanto romances quanto contos. Sendo um de seus mais notáveis trabalhos o romance de 2002 “Suas Mãos Frias” (그대의차가운손), que deixa evidente o interesse de Han Kang pela arte. O livro reproduz um manuscrito deixado por um escultor desaparecido que é obcecado em fazer moldes de gesso de corpos femininos.
No entanto, o grande sucesso internacional da escritora veio em 2007 com o romance “A Vegetariana” (채식주의자). Vencedor do Man Booker Prize 2016, que ganhou as telas do cinema em 2009, o livro, escrito em três partes e publicado no país pela editora Todavia, retrata a história de Yeong-hye, cuja a recusa em se submeter às normas de ingestão alimentar e comer carne, provoca diversas reações violentas e abusivas por parte de seu cunhado, marido e pai autoritário.
Kang também publicou o grande e complexo romance sobre amizade e arte “O Vento Sopra, Vai” (바람이 분다, 가라) em 2010, a obra “Lições de Grego” (희랍어 시간) em 2011, um retrato cativante de um relacionamento extraordinário entre dois indivíduos vulneráveis, o livro “Convalescence” (회복하는인간) em 2013, caracterizado por sua dupla exposição a dor, uma correspondência entre tormento mental e físico com conexões próximas ao pensamento oriental.
Já no romance “Atos Humanos” (소년이 온다) de 2014, Han Kang emprega como base política um evento histórico que ocorreu em Gwangju, onde ela cresceu e onde centenas de estudantes e civis desarmados foram assassinados durante um massacre feito pelo exército sul-coreano em 1980. Ao buscar dar voz às vítimas, o livro, publicado no país em maio de 2021, encara esse episódio com uma atualidade brutal e elementos de terror.
Outra obra de destaque é “O Livro Branco” (흰) de 2016, no qual o estilo poético de Han Kang domina mais uma vez. O livro, publicado no país em outubro de 2023, é uma elegia dedicada à pessoa que poderia ter sido a irmã mais velha do eu narrativo, mas que faleceu apenas algumas horas após o nascimento. Em uma sequência de notas curtas, todas sobre objetos brancos, é por meio dessa cor de tristeza que a obra como um todo é construída associativamente. Isso a torna menos um romance e mais uma espécie de "livro de orações secular", como também foi descrito.
Há ainda a obra, prevista para ser lançada no país em 2025 pela Todavia, “Nós Não Nos Separamos” (작별하지 않는다) de 2021, cuja a história se desenrola na sombra de um massacre que ocorreu no final da década de 1940 na Ilha de Jeju, na Coreia do Sul, onde dezenas de milhares de pessoas, entre elas crianças e idosos, foram baleadas sob suspeita de serem colaboradoras.
Atualmente, aos 54 anos, a autora ensina escrita criativa na Universidade de Seul, além de escrever contos e novelas, e realizar trabalhos de artes visuais. Han Kang, tinha acabado de jantar com seu filho em sua casa em Seul quando recebeu a notícia de que havia conquistado o Prêmio Nobel. E, entrevista, ela disse: “Estou tão surpresa e honrada”, e refletiu sobre como os escritores como um coletivo a influenciaram: “Todos os seus esforços e forças foram minha inspiração”.
A cerimônia de premiação ocorrerá, como sempre, no Concert Hall, em Estocolmo, no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel. Após a apresentação dos laureados e de suas descobertas ou trabalhos, Sua Majestade, o Rei da Suécia, entregará a cada um dos cinco laureados uma obra de arte única em forma de diploma e uma medalha de ouro. Seguindo a tradição, o Prêmio Nobel da Paz será entregue numa cerimônia a ser realizada no mesmo dia, durante a manhã, em Oslo, a capital da Noruega, pelo presidente do Comitê Norueguês do Nobel na presença de Suas Majestades, o Rei e a Rainha da Noruega, o Governo, representantes do Storting e um público convidado.
Confira os demais vencedores do Nobel no site oficial do prêmio (em inglês).
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